Desinteligência artificial: quando não sentimos mais
- Lidiane Passos
- 31 de mai.
- 2 min de leitura
Eu tenho uma hipersensibilidade, devido a uma certa alta habilidade.
Eu sinto muito.
Sinto muito o meu corpo. Por vezes ele dói, incomoda.
Eu sei que isso é resultado de um excesso de informações e da ativação intensa do meu reflexo de luta e fuga.
E eu sinto muito essas dores principalmente quando estou na cidade.
Hoje, depois de alguns dias no apartamento, no frio deste inverno, me dispus a deitar no sol, fui ao parque, para mim é como um quintal de casa.
Senti o chão.
Senti o calor.
E foi como se meu corpo derretesse. Sabe?
Derreteu.
E isso que derrete... é tão bom.
É uma necessidade pra mim.
Fiquei ali suspirando, espreguiçando, a respiração se acalmou.
Os olhos fecham e tudo fica vermelho, acho lindo.
Pode parecer estranho: uma mulher 40+ descobrindo agora o quanto preciso de calor.
Na verdade não é estranho, é precioso!. É um sinal de que estau viva e mais desperta.
Quando estou em casa, as paredes são quadradas.
O frio é quadrado, já perceberam?.É azul também, às vezes branco ou cinza...
Aqui, no sol, as coisas são redondas, mornas, douradas..
E meu corpo recebe com abertura, com entrega, com derretimento.
Se for pra falar da bioquímica, tem a dopamina, mas são só os nomes que dão, você ja sentiu?
Eu tive momentos de suspiros, de prazer, de sentir.
Coisas que quem toma café em demasia não sentirá com o sol. O café altera o nivel basal de dopamina, de varias substâncias de prazer...
Talvez você tenha lido até aqui e não compreenda muito toda essa coisa de calor ter cor,
de corpo que derrete,
de musica que tem forma,
são coisas sentidas que as palavras tendem a reduzir.
E o dia que percebi que musica também tem textura...
Algumas pessoas estão entrando na metade da vida de forma automática: Acordam, olham pro celular, absorvem informações, são produtivas, lidam com demandas, cobranças, pressões...
Fazem, fazem, fazem...
Não conseguem um mínimo de tempo pra tomar sol,muito menos para e sentir seus corpos.
E talvez seja isso que vá transformar essas pessoas, essa geração em uma "Humanidade artificial".
Não sei se chamaria de humanidade porque sentir é o que nos torna humanos.
Talvez... desinteligência artificial humana.
O frio foi então saindo, devagar, como um velho conhecido que entende a hora de partir.
E ficou o silêncio.
Ficou o calor.
Fiquei eu.
Inteira.
Sentindo.

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