Por que uma Inteligência Artificial nunca poderá ser sua psicóloga de verdade
- Lidiane Passos
- 22 de mai.
- 2 min de leitura
Hoje em dia, com o avanço das tecnologias, muita gente se pergunta: será que um dia a inteligência artificial poderá substituir um psicólogo?A resposta, do ponto de vista da psicoterapia profunda, é clara: não.
Isso porque o trabalho terapêutico verdadeiro não é apenas uma conversa lógica ou racional.Na verdade, o que mais importa na terapia não é o que é dito com palavras bonitas ou respostas inteligentes é o que acontece entre duas pessoas.
É um campo afetivo, vivo, cheio de nuances, onde o inconsciente se manifesta.
O inconsciente não fala diretamente
O inconsciente — essa parte profunda de nós que guarda memórias, desejos, traumas, medos e padrões, não se comunica de forma lógica ou direta. Ele se expressa através de sonhos, sintomas físicos, repetições de comportamento, esquecimentos, lapsos, imagens simbólicas e emoções difíceis de nomear.
E para que esse conteúdo venha à tona, é preciso um espaço seguro, afetivo e humano.Um espaço onde alguém não só ouça suas palavras, mas também te sinta.
Onde a sua dor encontre um outro corpo que se afeta com ela.
Transferência, projeção e campo relacional
Durante o processo terapêutico, é comum que a pessoa traga para a relação com o terapeuta emoções e padrões antigos, muitas vezes inconscientes. Isso se chama transferência.A cliente projeta no terapeuta aspectos importantes de sua história como se ele fosse, em algum nível, uma figura do passado (um pai, uma mãe, alguém que feriu ou acolheu).
Essa projeção não é um erro, é uma oportunidade preciosa: o passado se atualiza no presente para que possa ser olhado, sentido, elaborado.
Mas Jung vai além da ideia de mera repetição do passado. Ele compreende a transferência como uma manifestação simbólica do inconsciente, uma possibilidade de transformação da psique. É no campo da transferência que arquétipos (como a Sombra, a Anima, o Velho Sábio) também emergem, muitas vezes encarnados na figura do analista.
Ou seja, o analista passa a representar algo maior do que ele mesmo. Pode ser visto como salvador, perseguidor, mãe idealizada, inimigo, etc.Essa projeção, por mais distorcida que pareça, tem um valor profundo, pois mostra aquilo que precisa ser integrado na psique do paciente.
Do outro lado, o terapeuta também é afetado. É o que chamamos de contratransferência: as emoções que ele sente ao escutar, ao estar diante da história da cliente.É nesse campo invisível de afetos, ressonâncias e espelhamentos que o verdadeiro trabalho acontece.
A IA não tem corpo, nem história, nem afeto
Uma Inteligência Artificial pode te dar conselhos, organizar ideias, até parecer “sábia” com frases bonitas.Mas ela não tem corpo. Não tem memória emocional. Não sente dor. Não tem história pessoal.Não se angustia com o teu sofrimento.E por isso, não cria campo afetivo, não gera transferência, não se afeta.
Sem esse campo, o inconsciente não se move.Não há espelhamento simbólico, não há elaboração profunda, não há travessia.
A transformação acontece no afeto
O que transforma na terapia não é apenas a escuta é a presença.
É o olhar que sustenta, o silêncio que acolhe, a emoção que aparece no rosto do terapeuta quando ele se afeta com sua história.
É ali, no entre duas pessoas, que algo pode finalmente ser visto, nomeado, curado.
Terapia é vínculo. É relação viva.
É corpo com corpo.
Alma com alma.
E isso, nenhuma máquina pode oferecer.

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